terça-feira, 30 de julho de 2013

O Banheiro do Papa


O mundo como produto da capacidade racional de alinhar a boa vontade e o projeto dos mártires está longe de ser realizável.

Por Luciano Rodrigues

O Banheiro do Papa é um filme produzido em 2007. Foi codirigido por César Charlone, uruguaio erradicado no Brasil, assinou também a direção de fotografia de Cidade de Deus. A história se passa na cidade de Melo, fronteira entre Brasil e Uruguai. A população está agitada devido a visita próxima do Papa. O comércio local está animado visto que muita gente vai visitar a cidade e isso é uma oportunidade para venda de comida, bebida, bandeirinhas e penduricalhos. Um dos moradores tem a ideia de construir um banheiro já que os visitantes em algum momento terão que se aliviar. O filme se passa mostrando todas as dificuldades e conflitos que o personagem precisa superar para levar seu plano a cabo. (Spoiler) No final dá tudo errado. Na última hora, o trajeto do Papa é alterado e a comunidade toda fica no prejuízo. Uma população que já estava em estado de penúria, recebe o golpe de misericórdia.

O episódio se repete, porém agora na vida real. Os noticiários comentam o drama dos comerciantes de Guaratiba, no Rio de Janeiro. Há quem contraiu dívidas de R$60.000,00 em mercadorias, e curiosamente um marmoreiro repete o mesmo fiasco apresentado no filme de Charlone empenhando R$10.000,00 para construir 12 banheiros ao lado da sua casa localizada em frente ao Campus Fidei, local que abrigaria um dos eventos da Jornada Mundial da Juventude. A realização foi transferida para Copacabana e a população ficou a ver navios.

No Domingo, enquanto a mídia exaltava os ideais de solidariedade para com os pobres e exibia os gestos de simplicidade do Papa, eu lia uma entrevista da presidente Dilma em que ela discutia a fórmula do crescimento econômico baseado no mercado consumidor.

Em outras palavras, todos podem imaginar o quanto quiser, sonhar todos os dias com um mundo mais justo e igual, construir castelos com o cimento das ideologias, desde que não abandonem o celeiro onde moram, não abram mão do consumo. Somos consumidores, e se deixarmos de consumir, o país quebra, essa é uma verdade inexorável.

O Papa critica a concepção funcionalista da religião que a transforma numa ONG, mas uma condição diferente exigira uma comunhão de comportamento tal que sobraria pouco espaço para a subjetividade e a religião estaria presente na organização da vida de forma orgânica. Isso me faz lembrar os países dos aiatolás.

Há uma diferença entre realidade e existência. A realidade, construímos a partir de nossos costumes, crenças, convencionalidades e pelo modo como tocamos a vida, já a existência é independente de nós e por isso é implacável para com as vontades humanas. A realidade da Jornada Mundial da Juventude é o convívio entre jovens de diversas nações para a renovação e fortalecimento da fé bem como para a reafirmação do programa do novo pontificado. Quanto a existência, ela mostra a dureza da vida que impõe as variáveis econômicas que, se não são determinantes, ao menos se colocam como fardos bem pesados que dificultam, e muito, a realização dos planos elevados que saíram da comiseração compartilhada de milhares de almas bem intencionadas. Na existência, a religião é uma instituição que possui uma função específica na vida organizada para colaboração com a coesão do tecido social.

No final das contas, o jogo da vida precisa contar com todos esses agentes: o Papa, seus fiéis e simpatizantes, a mídia, os morros repletos de TVs de plasma, o comerciante “oportunista”, os políticos com suas politicagens, a marcha das vadias, tudo isso provoca um bate e rebate, um puxa e repuxa que nos ajuda a pensar nossa realidade e sobreviver ao caos da existência.

Um comentário:

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